Os melhores filmes dirigidos por mulheres
1- Cléo de 5 à 7 (1962): Agnès Varda é a minha diretora favorita e foi muito difícil escolher só um, mas vou reforçar essa indicação, mesmo sendo o seu filme mais conhecido e na minha opinião, o melhor da Nouvelle Vague, que em meio à um ambiente dominado por homens, Agnès trouxe o olhar de uma mulher feminista para o cinema desse movimento e é uma diferença enorme de quando vemos os filmes dos diretores dessa época que foram responsáveis pelo estereotipo da hipersexualização da mulher francesa.
São quase duas horas de um estudo belíssimo da personagem de Cléo, uma cantora que espera angustiosamente o resultado de um exame que dirá se ela tem um câncer ou não. Assim, acompanhamos a protagonista nessa jornada de medo, aceitação, reflexão sobre sua vida, a sua própria percepção sobre si mesma, o que a sociedade espera ver nela e o que o seu futuro aguarda. É um ótimo começo para quem quer conhecer a Nouvelle Vague e um filme obrigatório para conhecer a história do cinema.
2- The Rider (2018): Chloé Zhao se tornou uma das diretoras mais comentadas no último ano por ser a segunda mulher a ganhar o Oscar de melhor direção e melhor filme por Nomadland, além de sua grande estreia em um filme da Marvel que foi criticado desnecessariamente por motivos machistas. Por isso, é sempre importante conhecer as suas primeiras obras que a levaram para esse grande estrelato.
O que mais me encantou nesse filme foi o trabalho da direção com a sua sensibilidade e diferente abordagem para o gênero do faroeste. Aqui temos um forte drama de um cowboy que sofre um grave acidente e não pode mais participar de rodeios. A belíssima fotografia é um dos maiores marcos da diretora, com planos abertos e uma câmera na mão para nos sentir mais próximos do protagonista. O trabalho com os atores é excelente e eleva ainda mais a qualidade e experiência do filme.
3- Polisse (2011): Maïwenn traz um estilo documental para esse filme que acompanha um grupo de policiais do departamento de proteção à menores em Paris e ao também participar do filme como uma personagem, a diretora se põe como uma espectadora em segundo plano, como nós, enquanto acompanhamos todos aqueles casos de abuso de crianças e adolescentes.
Essa abordagem de direção deixa o espectador ainda mais incomodado e chocado ao seguir aquela rotina tão desgastante para os personagens do filme, em uma sequência de acontecimentos que vão se acumulando até o final que finaliza essa experiência devastadora. O que mais me chamou atenção nesse filme foi o fator humano e a reflexão e raiva que ele nos deixa após essas duas horas de puro realismo em um ambiente que nós não costumamos ver no cinema.
4- Elena (2012): Mais uma experiência devastadora para essa lista e sem dúvidas um dos melhores filmes de todos os tempos, além de ser um dos filmes mais tristes e poéticos que eu já vi. Um trabalho muito pessoal da diretora Petra Costa, mais conhecida pelo o seu outro documentário Democracia em Vertigem e por isso acho que Elena merece mais atenção pela sua delicadeza em contar uma história tão melancólica e particular da vida da diretora.
Ao falar sobre a vida de sua irmã que se mudou para Nova Iorque com o sonho de ser atriz, a diretora traça o seu trajeto através de gravações de fitas, vídeos e cartas que ela deixou como um diário de sua jornada que terminou tragicamente em um suicídio. A narração da diretora não poderia se encaixar melhor nesse filme que nos deixa com um aperto no coração durantes os seus 80 min. Prepare os lenços. Disponível na Netflix.
5- 13th (2016): Trazendo mais um incrível documentário para lista, e que deveria ter ganhado a estatueta do Oscar dessa categoria, dirigido por Ava DuVernay, o filme discute o sistema carcerário e étnico dos Estados Unidos, onde a décima terceira ementa foi usada como uma alternativa de conseguir trabalhadores braçais mesmo após a abolição da escravidão, com o processo de encarceramento em massa.
Com depoimentos de Angela Davis e vários outros ativistas e estudiosos, o filme traça uma extensa linha histórica, destacando todos os fatores e consequências para esse problema do país que atinge principalmente população negra. Cada número e gráfico mostrado são alarmantes e revoltante, assim a diretora não poupa o espectador de se chocar e ficar com o assunto na cabeça para uma profunda reflexão durante um bom tempo. Disponível na Netflix.
6- A sombra do pai (2018): Gabriela Amaral Almeida se tornou uma das minhas diretoras favoritas e que com certeza irá ser um nome ainda maior do cinema de terror. Como eu já recomendei o seu primeiro filme, O animal cordial, resolvi falar de A sombra do pai, pois ela trouxe um horror bem mais diferente do que o filme anterior. Na história, acompanhamos a vida de uma menina que mora com o seu pai e a dificuldade de relacionamento dos dois após a morte da mãe.
Aqui temos uma narrativa mais lenta e paciente, com o tema de bruxaria e ocultismo, os quais são abordados de uma forma muito empoderadora para a protagonista. As atuações são excelentes e a diretora sabe criar uma atmosfera fria como ninguém. É quase um sacrilégio que esse filme não é mais aclamado. Disponível na Amazon Prime.
7- Titane (2021): Quando eu descobri que esse filme ganhou a Palma de Ouro em Cannes, sendo o primeiro vencedor dirigido por uma mulher, já foi o suficiente para a minha ansiedade ficar nas alturas e não fiquei nem um pouco desapontada depois que assisti. Julia Ducournau ainda vai muito longe, pois esse apenas é o seu segundo longa-metragem. A sinopse é extremamente bizarra por si só, mas não se engane que o filme será apenas um body horror com cenas perturbadoras gratuitas.
Essa é uma obra prima do extremismo francês e com muita substância, mesmo com alguns momentos bastante desconfortáveis e nojentos. O filme fala sobre o afeto humano, a empatia, a masculinidade e o corpo feminino. Sem dúvida alguma, um dos melhores filmes de todos os tempos. Disponível no Mubi.
8- Guerra ao terror (2008): Existe muita controvérsia em torno desse filme que ganhou o Oscar de melhor filme e eu concordo que ele não merecia, mas não existe como negar que o trabalho de Kathryn Bigelow foi recompensado e se tornou um momento histórico da história do cinema ao ser a primeira mulher a ganhar a estatueta de melhor direção. Filmes de guerra não são um gênero que chama a minha atenção, porém com o tempo passei a apreciar mais esse filme e como uma mulher na direção faz toda a diferença.
Não há uma glorificação da guerra e da falsa masculinidade heroica dos filmes de guerra americanos. Aqui temos um filme mais cru com influências de um estilo documental e que desenvolve muito bem os seus três personagens principais. Disponível na Netflix e no Belas Artes à la carte.
9- Lady Bird (2017): Logo na sua estreia como diretora, Greta Gerwig já demonstrou o seu talento e estilo de direção nesse coming of age que desde o momento que eu assisti ao trailer, eu sabia que o filme iria se conectar bastante com a minha própria vivência, o que é um reflexo do estilo cinematográfico da diretora desde os seus trabalhos como atriz.
O estudo de personagem da protagonista, incrivelmente interpretada por Saoirse Ronan, na sua passagem da vida adolescente para a vida adulta, as inseguranças e os planos para o futuro. Além da sua intensa relação com a mãe e as diversas desavenças que levam as melhores cenas do filme. Pessoalmente, foi uma história que me marcou de diversas maneiras e é difícil fazer essa separação em um análise, especialmente levando em consideração que esse foi um filme que dividiu opiniões.
10- Precisamos falar sobre o Kevin (2011): Lynne Ramsay é conhecida pelos seus filmes intensos que buscam discutir a violência e apesar de sua curta filmografia, com grandes espaços de tempo entre um filme e outro, dificilmente você vai esquecê-los. Por isso, vale a pena esperar todo esse tempo para ver a próxima obra da diretora.
Esse é o caso desse drama perturbador sobre uma mãe que revive toda a sua relação com o seu problemático filho Kevin, com uma atuação excepcional de Ezra Miller. A narrativa não linear é usada da forma certa para criar a crescente tensão até o final do filme e a escolha de não mostrar explicitamente a constante violência faz com que o impacto final se torne ainda mais chocante e incômodo. Disponível na Amazon Prime Video.
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